domingo, dezembro 19, 2004

Verdade?


Às vezes me distraio, e penso que ando à procura da verdade. Mas eu não quero a verdade. A verdade é dogmática, é imutável, e extremamente venenosa nas nossas mãos. A verdade é incompatível com o infinito, com a imensidão.
Não, o que eu quero mesmo é a razão. Essa sim é compatível com a eternidade, porque tem de ser constantemente desbravada, discutida e duvidada.
Aqui a questão não é de complicar. É de entender o que somos, e onde estamos, e estarmos preparados para sobreviver.

sábado, dezembro 18, 2004

O mundo das zebras


É natural que os mais fortes dominem os mais fracos, é uma lei da natureza, mas no caso do homem existe uma diferença.
O leão tem dentes fortes e garras, e a zebra pouco mais pode fazer que correr, que fugir e ter medo do Leão. No caso do homem a questão é diferente, e bem diferente. O homem de poder tem dentes e garras falsas, ele não é mais que uma zebra mascarada, e as outras zebras têm medo da mascara. A questão é que já há zebras que com o tempo deixaram de ver a zebra por detrás da mascara, e por empatia, a zebra da mascara pensa que é uma mascara.
Mas isto não é novo, já muitos nos contaram esta história, já há muito que esta história nos canta, mas tem música que é assim mesmo, é preciso aprender a ouvir…

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Se eu já parei para pensar?


Bem, eu gostava de dizer que sim, que já parei para pensar, mas o que é facto é que eu ainda nunca parei. Quer dizer, eu acho que ja fiz umas pequenas pausas, mas nao o suficiente para dizer que de facto parei. Eu gosto da frase, ela tem impacto e tem significado, mas eu penso que talvez ela fique melhor ao contrario, mais adaptada aos dias de hoje. Eu diria: Já pensaste em parar? Isto porque o que define um pouco os dias de hoje é esta correria em que andamos, este viver por automatismos, onde não nos damos conta realmente do que andamos a fazer. Sim, eu diria se já pensaste em parar, se ja pensaste em descontrair e deixar um pouco de reagir aos estimulos, de realmente parar. Pode ser que dai vejamos melhor como tudo o resto roda, vejamos todo o movimento, e de como tanto dele é desnecessario, tanto dele é injusto e cruel. Mas enfim, parar não é para todos, a vida é curta, não podemos desperdiçar nenhum momento desta roda viva, que nos enjoa, mas mantem em movimento, até porque há quem diga que parar é morrer. Mas eu um dia gostava de me sentar, nem que fosse so por pouco tempo, mas palavra que gostava de me sentar.
( quem me conhece pode ser levado a pensar, "mais ainda!?", mas eu acho que poucas ou nenhumas vezes me sentei)

domingo, dezembro 05, 2004

E viva Portugal!


Existe uma tendência em Portugal que é absolutamente venenosa.
Imaginemos dois Países, o (A) e o (B). O País (A) é o melhor, e o (B) o pior. O País onde estamos é o (B), e a tendência em Portugal é esta:
- Vamos todos ser preparados para o País (B), porque esse é o País onde vivemos, e nós não queremos construir uma sociedade de inadaptados.

Mas enfim, vamos mas é estar quietinhos e caladinhos, não é verdade, porque a coisa está má mas ainda se aguenta, deixa andar! E viva Portugal! És o maior!

Simplificar

Acredito que o mundo, o universo, é construído sobre bases simples, infinitamente simples à medida que diminui a sua proporção. Em analogia, poderíamos associar o mundo físico a uma eterna construção de peças de lego, com infinitas formas. Se tentarmos ver a forma total, ela aparece-nos como extremamente complexa, mas se procurarmos a sua base, os seus ínfimos pedaços, veremos que se trata de uma simples sobreposição de simples peças sobre outras, e percebemos mais facilmente ali o porquê de uma peça ter sido posta em determinada posição, e o porquê de uma composição de peças resultar numa forma, e outra composição noutra. Se quisermos, podemos fazer a mesma analogia para o mundo não físico, basta associar a cada situação uma peça, e a combinação de situações seguirá igualmente uma lógica, da mesma forma que as peças (só um cubo encaixa perfeitamente noutro, uma outra forma qualquer associada a um cubo deixará espaços, interstícios entre eles, e existem infinitas construções possíveis se usarmos infinitas combinações entre peças).
Quando estudamos determinado assunto, não estamos mais que a decifrar o puzzle, a descobrir a sua história, a adivinhar a sua construção. Na matemática, começamos por conhecer os números, que serão as peças, e depois passamos às suas combinações simples, aprendemos a somar e a dividir, que serão as formas mais simples da construção do lego. A partir dai a matemática não é mais que combinações destas formas simples, a lógica é sempre a mesma, a sua complexidade advém das inúmeras combinações que estão implicadas, ou no caso do lego, nas inúmeras possibilidades de montar formas, e mais formas com as existentes.
Em qualquer outra ciência, exacta ou não exacta, a lógica da construção mantém-se, mudando apenas a lógica em si mesma de cada ciência. No entanto, em tudo, o que está atrás influencia o que está à frente, as acções provocam reacções, e se queremos decifrar algo, para tal basta conhecer a sua história, todos os factores e variáveis que o influenciam e estiveram por trás do seu aparecimento. Para determinadas ciências (no fundo para todas, mas umas mais que outras, aparentemente), as variáveis ou os factores são tantos, que a sua completa decifração se nos apresenta como impossível.

Isto para dizer que para complexo já nos chega o mundo, e se pretendemos evoluir mais rapidamente na sua compreensão precisamos simplificar o que pode ser simplificado e tentar simplificar o que aparentemente não pode, para que as novas variáveis que vamos tomando conhecimento não se tornem cada vez mais um fardo, e uma complexidade extra ao já de si complexo (simplificar no sentido de reduzirmos o conteúdo informativo sem com isso perdermos o essencial).

E obviamente que deixaria a arte fora deste contexto, ai, simples ou complexa, o que eu gostaria era que ela tivesse liberdade.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

...


São dois corpos que se tocam
E se beijam
Sem o saber

E quando o sabem
Não o sabem
Sem o fazer

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Somos todos muito bonzinhos


Hoje vemos aqueles filmes sobre tempos idos, onde o povo reunido em alegre confraternização aguarda os infelizes protagonistas, para serem espectadores do espectáculo da morte.
Fosse enforcamento, decapitação ou tortura, o que o povo pretendia ao deslocar-se a tal espectáculo era simplesmente rejubilar-se com o sofrimento alheio. Ali não é a justiça que está em causa, o que os move é apenas o sangue, o suor do condenado.
Hoje podemos ver que nada mudámos em relação a esses tempos, quando vemos os arguidos do “ processo casa pia “ a se dirigirem para o tribunal, local onde irá decorrer um julgamento, para decidir se de facto aquelas pessoas serão consideradas culpadas ou inocentes e observamos a atitude das pessoas que acorrem ao local. Ninguém ainda foi julgado, mas isso parece pouco importar. O que importa é que ali cheira a sangue e há pessoas que não querem perder o espectáculo, e outras ainda, que mesmo não estando presentes o acham normal.
É da natureza humana gostar do sofrimento alheio, e se for possível sermos dele cúmplice sem com isso sermos considerados culpados, melhor ainda (na área da psicologia fizeram um estudo interessantíssimo sobre essa faceta humana, onde várias pessoas provocavam choques eléctricos noutras, e estas cientes da sua desresponsabilização provocariam a morte das outras, se os choques fossem verdadeiros, coisa que elas não sabiam; não sei onde indicar este estudo, mas ele andará por ai na net).
No entanto também somos bichos sociais, e nesse papel é natural criarmos barreiras, regras, que nos defendam de nós próprios e dos nossos ímpetos. Em oposição ao crime nós temos o castigo, e assim podemos prevenir que determinadas pessoas não cometam o crime, por medo do castigo, e assim nos regulamos, assim nos tentamos proteger. Outra forma de auto-regulaçao é a prevenção, onde se pretende criar condições para que o crime não tenha bases sociais para aparecer, ou prosperar.
Ora, num sistema social onde estas regulações sejam aplicadas, e principalmente a segunda, essa sociedade terá uma aparência de um maior humanismo, a tal ponto que as pessoas chegam a acreditar nele, e quem sabe, algumas até o tenham.
Pois então que se faça o mesmo cá, que não se permita que este espectáculo em porta do tribunal ocorra e seja considerado normal, que seja regulado de alguma forma, para que possamos disfarçar que já não estamos na idade média, e possamos pensar que já evoluímos um pouco, por forma a que a nossa perversidade, irracionalidade e barbárie se esconda, e assim andemos mais enganados, ao ponto de acreditarmos que somos diferentes, ao ponto de corrermos o risco de pelo menos alguns sermos diferentes.