segunda-feira, setembro 19, 2005

Obrigado Portugal!

Não precisamos ir ao interior profundo, ou às nossas aldeias, vilas e cidades, ou tradições, para entendermos muita da nossa natureza.
Felizmente, o melhor dela espelha-se em muita da classe educada da nossa sociedade, que nos está acessível por muitos dos meios de comunicação ao nosso dispor. Basta ligar a televisão, e ver um debate entre políticos ou comentadores, muitos deles viajados e com estudos no estrangeiro. Eles são uma parte visível de uma parte “educada” da sociedade, e como tal, e para muitas pessoas, eles são o exemplo, ou a imagem, da pessoa educada.
Por esse facto, gostaria de lhes agradecer, pois cada vez mais sinto-me uma pessoa melhor, com tudo o que já aprendi.
Por exemplo, aprendi que se falar sempre mais alto que o meu interlocutor, se o interromper constantemente, consigo me superiorizar a ele; se for num grupo de pessoas, passo a imagem de uma pessoa com ideias fortes, além de que consigo que toda a plateia fique esclarecida, pois após a conversa reina o silêncio.
Aprendi que o que importa não é o que eu fiz, ou posso fazer de bem, mas antes o que os outros fazem de mal.
Aprendi que a melhor maneira para contrariar uma argumentação que me vença, é insultar a pessoa que me está a tentar vencer.
Aprendi que não devo contrariar a lei, a não ser que a consiga enganar.
Aprendi a trabalhar em grupo, por um objectivo comum: -Divido o grupo, cada um por si, valorizar o que eu faço, e criticar tudo o que os outros fazem. Se é para avançar, que seja à minha maneira, que obviamente é a melhor.
Aprendi que posso mentir descaradamente, porque sinceramente, ninguém se importa, e toda a gente o faz.
Aprendi que uma posição de poder e de autoridade é para ser exercida com desprezo pelos meus subordinados, devido à maravilhosa formula - poder = autoridade = posso fazer o que me der na real gana.
Aprendi que muitos dos problemas se resolvem por eles próprios.
Aprendi que a responsabilidade é um conceito vago, e que é feio pedir responsabilidades.
Aprendi que tenho de esperar que as coisas mudem, porque eu não sou mais que os outros, para querer que as coisas mudem para mim.
Viver é aprender, e em Portugal vive-se bem!

sexta-feira, setembro 16, 2005

A todos os Alcobacences


Vamos em breve a eleições para a Presidência Municipal. O nosso querido concelho, do nosso queridinho País, vai estar sujeito a uma querida e fofa eleição democrática. Mais uma vez, vamos poder escolher, livremente, de entre um idiota, um ladrão, um atrasado mental e um incompetente, qual o que desejamos que comande os destinos do nosso concelho. Agradecidos estamos nós por este sistema que nos permite escolher! E agradecidos estamos nós por este sistema que nos facilita os resultados, pois sabemos à partida que a corrida se disputa entre dois dos candidatos, que em si resumem as qualidades de todos (embora este ano tudo indica que a disputa é entre um candidato e ele mesmo), atenuando assim a nossa ansiedade. O povo vê a direito por cabeças tortas (ou algo assim, eu sei que existe um dizer popular parecido, mas a minha memoria é fraca, perdoem-me).
Infelizmente o nosso sistema tem uma falha, que por vezes nos leva a cair nela, embora pouco, e confesso aqui que algumas vezes eu fui uma dessas pessoas. É que o sistema permite escolher, não escolhendo. Aconteceu-me já, no calor da indecisão, e sentindo-me pressionado pelo ambiente formal e democrático, introduzir o boletim de voto na urna, sem que nele tivesse feito qualquer escolha. Perdoem-me todos os democratas, que tanto lutaram para que eu pudesse escolher.
Oiço constantemente as pessoas a dizerem-me que não devo brincar com coisas sérias, mas é difícil interiorizar esse conselho, quando tantas das coisas sérias são hilariantes. Não há ironia mais mordaz que um belo discurso político de um candidato.
E com tudo isto já tomei a minha decisão. Este ano vou ter uma atitude política! E apelo a todos os 5 Alcobacences que visitam o meu blog, que me acompanhem nesta aventura.
Sejamos políticos, e votemos no Vítor Paraquedista!!

Nota aos não Alcobacences: O Vítor Paraquedista não é candidato. O Vítor Paraquedista não sabe que é candidato. O Vítor Paraquedista provavelmente não sabe nada de nada, e também não quer saber.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Gota humana

Gota de suor
Gota de lágrima
Gota de sangue…

Tudo me escorre
E percorre

Gota humana…

Que flúi

Tão triste e tão bela
Na sua liberdade…

Ó homem

Ó Homem
Poderoso e forte

Tu que inventas televisões
Foguetões
Tu que edificas
Que compões
Que Arruínas
Que dispões

Tu que reinas
Que predominas
Que raciocinas…

E prossegues embriagado com tamanhas façanhas
Desprezando que o teu reino é de brincar
Quando comparado com a adulta natureza

quinta-feira, setembro 01, 2005

"Deus face à Ciência"

Acabei há dias de ler um livro bastante interessante. Já o tinha na prateleira há alguns anos, foi-me oferecido a pedido meu, e lá esteve até há pouco tempo. É a primeira vez que faço aqui publicidade a um livro, e se o faço é porque acho a sua leitura pertinente, e porque o tema do livro é sobre um assunto que ocupa grande parte do meu raciocínio e alguma parte da minha leitura.
Quem me conhece sabe que sou crítico acérrimo da religião católica, e de uma maneira geral, de todas as formas de religião. No entanto, e como em tudo, nunca fui de ler, ou de ouvir, apenas o que vai de acordo com a minha opinião; pelo contrário, sempre gostei de olhar as realidades, e tentar fazer por mim a minha avaliação, obviamente influenciada pelo meu pensamento, mas procurando a imparcialidade na lógica, ou no raciocínio lógico. Este argumento poderá ser atacado por alguns, no sentido em que me poderão dizer que os caminhos da fé fogem da racionalidade. Não o duvido, alias, estou até bastante convencido disso, mas aquilo que critico não é a fé nem a crença, mas apenas os caminhos e as direcções que em nome da fé se tomam, quando eles ultrapassam a área de influência do individual, e cuja influência seja prejudicial, no sentido em que se baseia em argumentos irracionais, contribuindo não só para o desenvolvimento de uma ignorância colectiva, como para o atraso e pouco saudável desenvolvimento social.
O título do livro é “ Deus face à Ciência”, de Claude Allegre e a editora a Gradiva. No entanto, o livro poderia chamar-se “A religião face à Ciência”, pois visto que poucos são os discursos de Deus que chegam até nós, o autor teve de usar muitas vezes os seus “representantes” e “interlocutores”. O livro faz uma abordagem dos conflitos que houve ao longo dos tempos entre a religião e a ciência, e também, e através disso, os lugares onde a ciência se desenvolveu mais, tendo em conta a religião presente. Além disso, o livro é enriquecedor tanto para homens como eu do ramo da ciência, como para todos, pelo que de informação nós dá do surgimento de algumas descobertas, e algumas curiosidades. Pelo lado da religião é também interessante porque também nos apresenta uma leve perspectiva histórica. No fundo considero o livro bastante imparcial, porque é muito expositivo, apoiando-se sempre em factos históricos, e penso que é um livro bastante interessante tanto para crentes, como para não crentes, pois apresenta-nos os factos para que possamos sobre eles reflectir.