sexta-feira, outubro 15, 2004

Ditos


Juntos somos cada vez mais fortes.
Sozinhos, cada vez mais fragilizados.
E no entanto,
somos cada vez mais egoistas
e menos preocupados com os outros.

Existe aqui uma aparente contradição,
ou talvez não,
talvez que seja coerente
(natural certamente)
e a causa a ilusão,
a nossa embriaguez,
ou os seus efeitos secundários.

E para nós, especie humana,perigoso,
muito perigoso.

sexta-feira, outubro 08, 2004

Ditos

O caminho para chegar a uma solução
é o que mais próximo temos dela.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Ditos

O natural é o possivel
O que existe, a sua descoberta
A vida,
o conflito com o inevitavel
o eterno engano
Sobre esta reportagem:


"Vaticano Considera "Infeliz" a Legalização dos Casamentos Homossexuais

O cardeal do Vaticano para os assuntos da família, Alfonso Lopez, considerou a aprovação do anteprojecto de lei espanhol que legaliza os casamentos homossexuais no país e a adopção de crianças por estes casais como um "passo infeliz". As declarações foram feitas na Rádio Vaticano e vão ao encontro da campanha que tem sido feita pelo Papa João Paulo II contra o casamento de entre pessoas do mesmo sexo.
"Com esta proposta de lei, o conceito de casamento é esvaziado de sentido. Inventam uma nova definição que, é implicitamente, uma alternativa ao casamento", condenou o cardeal Alfonso Lopez. "Os Governos apresentam estas medidas como se se tratasse uma conquista da modernidade e da democracia. Na verdade, estão a cair num processo de desumanização profundo", acrescentou o membro do Vaticano, referindo-se aos outros países europeus que já legalizaram o casamento entre homossexuais e lésbicas.
A proposta do primeiro-ministro socialista, Jose Luis Zapatero, aprovada anteontem em Conselho de Ministros, segue as alterações legislativas já produzidas na Bélgica e na Holanda. A Suécia e a Dinamarca também reconhecem legalmente as uniões civis de casais de pessoas do mesmo sexo.
"Dizem que existem muitos estudos de psicólogos que mostram que as crianças são felizes no seio destes casais, mas isso é mentira. Temos estudos diferentes que mostram o contrário", sustentou ainda o cardeal do Vaticano, em relação à possibilidade dos casais homossexuais poderem vir a adoptar crianças. "


Eu tenho a dizer o seguinte:


Eu considero Infeliz o Vaticano considerar “infeliz” a legalização dos casamentos homossexuais.

Pelas palavras do senhor, podemos retirar algumas conclusões, que nos elucidarão sobre o que o Vaticano pensa sobre o matrimónio e sobre todos nós em geral.
Diz então o ministro para os assuntos familiares, do partido auto-denominado representante dos valores morais por eles fixados e da verdade divina e do divino, que o conceito de casamento fica esvaziado de sentido, com a dita proposta.
Em primeiro lugar, a proposta é relativa aos casamentos civis, fora, portanto, do domínio da Igreja, ou supostamente fora, porque esses senhores ainda se rogam o direito de se imiscuir no que lhes transcende, mas ai também a surpresa não é grande, ou não seria essa a razão, entre outras, que está na origem da formação desta entidade. Enfim, já é uma questão de hábito, pior é mesmo as sociedades ditas laicas ainda o aceitarem, isso é que é realmente grave, e a desculpa de que a igreja teve um grande contributo social para os países ao longo da história (teve??, e estamos todos orgulhosos?), é um não argumento, a separação do estado e da igreja foi “feita” e se é essa a lei, é tão simples como respeita-la.
Segundo, e considerando as diferenças entre um casal de pessoas do mesmo sexo e entre um casal de sexo diferente, podemos concluir que para o Vaticano, o sentido único do matrimónio é a reprodução. Isto porque, no jogo dos possíveis entre os dois grupos, só vejo como não possível uma mulher fecundar outra, ou um homem engravidar. Tirando isso, e compreendendo que as pessoas, os seres humanos, têm a capacidade para se amar e respeitar, não vejo como uma união entre casais homossexuais possa ser diferente de uma união entre casais heterossexuais. Portanto, quando a Igreja afirma que o casamento entre casais do mesmo sexo é esvaziado de sentido, e sendo que a única diferença é o facto de estes casais não se poderem reproduzir, podemos concluir que os casais heterossexuais que se casam, fazem-no com o objectivo único da reprodução, sendo que questões como o amor, o respeito, a entreajuda, são vistas como questões menores, que pouco ou nada têm a ver com a razão de essas pessoas quererem passar o resto da vida juntas. Esta visão, por muito sentido que faça aos conhecedores das leis da vida, parece entrar em contradição com os níveis da natalidade presente dos casais, mas talvez que seja só uma questão da mensagem não estar a chegar aos receptores, pois que os casais parecem ainda não ter entendido que o objectivo pelo qual se casaram ficou esquecido.
Outra hipótese, que a estar certa arrasa com a minha conclusão anterior, é a de que os homossexuais serão portadores de uma doença grave e ainda misteriosa, que lhes retira a capacidade para amar e respeitar os outros, ou mesmo que eles não serão homens ou mulheres, talvez os verdadeiros extra-terrestres, ou mesmo filhos de um outro Deus, talvez mesmo o Diabo, e como tal não conhecem o amor. Esta hipótese é a que melhor serve a declaração do senhor Ministro do Vaticano, que diz que “Os Governos apresentam estas medidas como se se tratasse uma conquista da modernidade e da democracia. Na verdade, estão a cair num processo de desumanização profundo”. Processo de desumanização profundo…
Desumano – que não é humano; desnaturado; cruel; desapiedado; que não cumpre os deveres da humanidade.
(as coisas que a gente encontra nos dicionários, “que não cumpre os deveres da humanidade”, mas o que é isso? Quais são? Porque?)
Podemos então concluir, ou reformular a nossa conclusão, que de facto, e para felicidade e descanso de todos os casais heterossexuais que já efectuaram matrimónio, a reprodução não é o único objectivo do matrimónio, sendo que nele também estão considerados o amor, o respeito, a entreajuda e todas as outras coisas lindas e perfeitas que embelezam o contrato, e como tal já podem começar a exercitar novamente o milagre das relações sexuais não reprodutivas, já que como sabemos, a dita igreja não permite o uso de contraceptivos de qualquer espécie. E concluímos assim, porque o senhor Ministro do Vaticano nos elucidou acerca da verdade das verdades, afinal, os homossexuais, ou não são humanos, ou não estão a cumprir com os deveres da humanidade; e visto que o fenómeno é grande e antigo, estaremos talvez na presença de uma epidemia à escala global, ou mesmo de um qualquer castigo divino, fruto de um qualquer pecado original, que é obviamente justo que sejamos nós a paga-lo.
Em relação a esta frase: ” Dizem que existem muitos estudos de psicólogos que mostram que as crianças são felizes no seio destes casais, mas isso é mentira. Temos estudos diferentes que mostram o contrário”. Bem, parece que um deles está a mentir. Outra hipótese seria os dois estarem a mentir e a falar verdade, pois que estes filhos de Deus são gente estranha e não há dois iguais. Talvez que não se possa garantir a felicidade da criança em nenhum dos casais, quantas crianças não são infelizes e martirizadas pelos seus pais heterossexuais? Será que podemos garantir a felicidade de uma criança sempre? Parece obvio que não, talvez que sobre isso se pudesse tentar fazer alguma coisa, com cuidado, não esquecendo que estamos a entrar no domínio privado das pessoas. Mas uma coisa é certa, entre uma criança viver sem pais e sem amor, ou lhe ser dada a hipótese de ser criada num núcleo que lhe dê atenção e amor, a segunda parece ser sempre de tentar. E se um homossexual não seguiu o exemplo dos pais heterossexuais, o que nos leva a pensar que o contrário acontecerá. E eu digo, e mesmo que assim fosse?
Talvez que tenham de ser as crianças, desapegadas de leis e tradições que nos torvam o pensamento, a nos libertar, ou a se libertarem, de preconceitos que estão cheios de hipocrisia, e talvez com isso possamos melhorar um pouco o mundo, no caminho para aceitarmos as nossas diferenças.