quarta-feira, novembro 29, 2006

Maria Cigana

Sorriso inocente
de menina que quer saber
de mulher que é
que o corpo já o disse

Força de vontade
na vontade da força
que em novelos de lã delicada se mexe
em ritmos escondidos
que vão nascendo
como numa flor
pela manhã
com o sol
da musica
que a transcende
e a faz ser quem é.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Sexo, ou simplesmente a vida.

Um dia estava a falar com um amigo meu sobre um texto que tinha escrito sobre a homossexualidade. Ele ficou surpreendido (para minha surpresa), por eu achar normal a homossexualidade. Tenho em grande consideração intelectual este meu amigo, e sempre que nos encontramos, somos levados automaticamente para tertúlias sobre o tudo e o nada. Mas temos uma diferença; eu sou ateu, e ele é gnóstico, e esse facto gera aguerridas argumentações de parte a parte, na tentativa de exposição das nossas ideias. Bastante interessantes, devo dize-lo.
Baseando-se numa teoria muito antiga, o meu amigo explicou-me que haveria uma posição sexual perfeita, em que os dois corpos estariam entrelaçados um no outro, sentados, e onde o pénis entraria na vulva nessa posição. Essa seria a posição sexual mais harmónica, e ele deu-me as explicações para tal, que não me recordo agora. Também não me recordo exactamente do teor da conversa, mas no fundo o que ele me quis dizer, era que o sexo anal não era harmónico, e talvez me tenha dito mesmo que não era natural (aqui surpreendeu-me outra vez, porque ele não era apenas contra a homossexualidade, era também contra o sexo anal).
Ora bem, eu não duvido, nem preciso duvidar, da sabedoria a que ele apela, muito antiga e certamente muito certa. Que haja uma posição sexual perfeita, harmónica, em que as nossas energias flúem para um orgasmo de felicidade e nirvana! Mas esse não é o mundo onde ele vive, e digo-o mesmo, não é o mundo onde ele quer viver! E podemos olhar para esta questão sobre dois pontos de vista: o físico, e o emocional.
Influenciado pela teoria da criação bíblica, onde o mundo teria sido formado pelo criador, de uma forma perfeita, o homem sempre olhou, e tentou olhar, o mundo como um conjunto perfeitamente harmónico e perfeito. E esse facto levou o homem a cair no erro muitas vezes. Há vários exemplos, desde a génesis, e as teorias da criação da terra, que foram sendo contrapostas pela geologia desde o século XIX. (o engraçado aqui, é que foi a própria igreja que financiou esses estudos, e muitos dos cientistas eram homens da igreja, que se viram confrontados com o facto de terem de contradizer o livro sagrado), na astronomia, onde várias teorias davam a órbita dos planetas como sendo em circulo perfeito, por ser essa a forma geométrica perfeita, associando-a à perfeição do criador, e que depois foi descoberto que a órbita dos mesmo era em elipse. E exemplos destes há mais, mas escusamos de passar pela seca de ler todos esses livros históricos, e científicos, se tal não quisermos. Basta olhar à nossa volta! A natureza não é harmónica em todos os pormenores. As bordas dos rios e da Costa Oceânica não são linhas rectas, as árvores não são quadradas, nem círculos, as nuvens não são esferas perfeitas, as rochas não são homogéneas. Ou seja, o mundo físico é feito de ordem e caos, de acasos, e as harmonias e os equilíbrios são sempre gerais, e temporais. Há harmonias, mas dentro dessas harmonias há o acaso, há as linhas de fronteira, como já aqui falei num texto neste blog. Há uma harmonia na natureza, onde há as árvores, há os animais, as rochas, mas feita de equilíbrios e desequilíbrios, feita de acções dadas pelo fisicamente possível (a terra mexe-se, as árvores têm diferentes formas, a atmosfera luta pelo equilíbrio entre o oxigénio e o dióxido de carbono, os animais têm diferentes formas, etc., etc.). Sendo o homem parte da natureza, e vivendo em simbiose com ela, é natural que se comporte como ela. Influenciados pela natureza que nos envolve, temos homens de pele clara no norte, de pele escura no sul. Influenciados pela cultura social de cada povo, temos homens que casam com uma mulher, e homens que casam com 5. Influenciados pelas células que constituem a nossa língua, temos homens que gostam de maças, e homens que não gostam de maças. Influenciados pela arte e imaginação, temos o Picasso, e temos o Andy Warhol. Influenciados pelo que nos é permitido procurar e gostar, dentro da nossa mente, temos a penetração anal, o sexo homossexual, a pedofilia, e temos o que queremos ou desejamos descobrir. As possibilidades físicas e emocionais são infinitas, a imaginação é o único meio que temos de percorrer os caminhos do infinito! O facto de as nossas atitudes humanas nos parecerem antinaturais, são apenas fruto do conflito entre a ordem social que criamos, e nos habituámos, e os nossos instintos; são o conflito entre a nossa tendência para criar a ordem, e a tendência para criar o caos; são o conflito entre a necessidade de tudo entender, num universo de conhecimento infinito, onde o que não conseguimos absorver, simplificamos com o misticismo.
Duvido que o meu amigo gostasse de viver num mundo “perfeito”, onde as pessoas seriam todas perfeitas, lindas, onde as árvores seriam quadradas, onde as nuvens fossem todas perfeitamente iguais e simétricas, onde não houvessem vulcões, nem escarpas, nem cascatas. Duvido que o meu amigo gostasse de viver numa sociedade onde não existisse arte e imaginação, que fugissem da perfeição já criada. Duvido que o meu amigo gostasse de estar limitado a tocar apenas nos pontos “perfeitos” da pessoa amada, que estivesse condicionado a apenas amar o que pode ser amável.
Temos muita coisa que desconhecemos no mundo, muita coisa que nos traz sofrimento, muita coisa que vemos sem sentido, mas esse é o preço que temos de pagar por sermos como somos, é a nossa sina, sermos humanos, com a capacidade de criar a beleza, e o terror, e termos consciência disso.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Viajante

Ouvem-se os paços
No silêncio do vazio
Do deserto
Das montanhas

O eco ressoa
Nas árvores
Do horizonte
De vento
E mistério

É um homem
Que caminha
Na ignorância
Dos movimentos

Andando
Atento
Nos caminhos
Que percorre

sexta-feira, novembro 03, 2006

...

Onde estas, menino homem?
Que t´encontro apenas no desencontro de t´encontrar

Falta-te, o que sabes
Precisas ter
Para o achar

Ai paradoxos e contradições!
Como eu vos amo
E odeio