sexta-feira, dezembro 23, 2005

Fábrica de sonhos...

Fábrica de sonhos
Guia de vontades
Dai-nos o sono
Para dormirmos acordados

quarta-feira, outubro 12, 2005

Cabovisão

Só para divertimento dos meus leitores, aqui vai uma carta que mandei à Cabovisão. Não sei se obviamente, mas o que é facto é que ainda não recebi resposta.

Ex.mos Senhores:

Quando um cliente nos faz uma reclamação sobre um serviço que prestamos, o caso é no mínimo motivo de preocupação, e essa preocupação deve levar-nos a fazer uma avaliação dessa reclamação e perceber se o que correu mal é da nossa responsabilidade, e se for esse o caso, se é possível evitá-la. Isto numa empresa ou instituição que tenha a preocupação constante em servir o melhor possível, inovando e modernizando para manter ou melhorar altos padrões de
eficiência, pois apenas com esta mentalidade podemos sobreviver como empresa num mundo cada vez mais competitivo, cativando e satisfazendo assim os nossos clientes.
Como empresa de alguma dimensão e duração no nosso mercado, estou certo que o referido vos é obvio. A minha questão é apenas saber a razão porque esta claridade vos cegou, já que parece que vocês, enquanto empresa, oferecem tanta segurança e garantia como um barco à deriva numa tempestade, sendo que eu ainda não sou vosso cliente, e já tenho uma reclamação a fazer.
Pretendia ter o serviço de internet em casa, e para tal investiguei todas as opções ao meu dispor. De entre todas, a vossa era uma das possíveis e pareceu-me ser a melhor, tendo em conta o que pretendia.
Há uma semana atrás telefonei para a vossa central de atendimento, com o fim de esclarecer os últimos pormenores e posteriormente solicitar os vossos serviços, pois estava decidido a tornar-me vosso cliente. Como resposta foi-me dito que seria contactado a fim de esclarecer as minhas dúvidas e posteriormente fazer o pedido de instalação. Este facto foi para mim estranho e motivo de descontentamento, pois estava decidido a ter o vosso serviço e não entendi o porquê de não me ser facultada a informação, nem a razão porque não podia fazer imediatamente o pedido, já que tinha urgência do mesmo. No entanto, optei por esperar, visto que a vossa oferta era a que melhor me servia. Ontem, após um semana sem ter recebido resposta, optei por voltar a contactar-vos, pois o prazo de espera pareceu-me absurdo e inexplicável. No novo contacto foi-me dito que o prazo habitual de espera era de 15 dias, pelo que a única coisa que poderia fazer era esperar.
Posto isto, deixo aqui a minha reclamação, de ordem ética e cívica, sendo que não sou nem um cliente desesperado, que me permita suportar a espera, nem um cliente ignorante, que considere a espera normal, ou mesmo um cliente masoquista, porque esta forma de actuar é prenúncio de problemas futuros.
Ainda ontem, após ter falado com os vossos "serviços", telefonei a duas operadoras de internet para saber das suas condições. Ambas me esclareceram no momento todas as condições, e ambas se propuseram a associar-me como cliente,- no momento!
Resta-me acabar dizendo que não pretendo, nem faço conta que levem em consideração a minha reclamação para tentarem melhorar os vossos serviços. A vossa aparente prolongada forma de actuar é para mim sinal mais que suficiente da forma como trabalham. A minha intenção é apenas mostrar a minha indignação, e esperar que vocês desapareçam.

Respeitosamente,

Ricardo

sábado, outubro 08, 2005

Branquinho!!

É a cor do meu voto amanhã.

Se o meu País não fosse de brincar, eu ainda pensava que as eleições eram uma brincadeira.

segunda-feira, setembro 19, 2005

Obrigado Portugal!

Não precisamos ir ao interior profundo, ou às nossas aldeias, vilas e cidades, ou tradições, para entendermos muita da nossa natureza.
Felizmente, o melhor dela espelha-se em muita da classe educada da nossa sociedade, que nos está acessível por muitos dos meios de comunicação ao nosso dispor. Basta ligar a televisão, e ver um debate entre políticos ou comentadores, muitos deles viajados e com estudos no estrangeiro. Eles são uma parte visível de uma parte “educada” da sociedade, e como tal, e para muitas pessoas, eles são o exemplo, ou a imagem, da pessoa educada.
Por esse facto, gostaria de lhes agradecer, pois cada vez mais sinto-me uma pessoa melhor, com tudo o que já aprendi.
Por exemplo, aprendi que se falar sempre mais alto que o meu interlocutor, se o interromper constantemente, consigo me superiorizar a ele; se for num grupo de pessoas, passo a imagem de uma pessoa com ideias fortes, além de que consigo que toda a plateia fique esclarecida, pois após a conversa reina o silêncio.
Aprendi que o que importa não é o que eu fiz, ou posso fazer de bem, mas antes o que os outros fazem de mal.
Aprendi que a melhor maneira para contrariar uma argumentação que me vença, é insultar a pessoa que me está a tentar vencer.
Aprendi que não devo contrariar a lei, a não ser que a consiga enganar.
Aprendi a trabalhar em grupo, por um objectivo comum: -Divido o grupo, cada um por si, valorizar o que eu faço, e criticar tudo o que os outros fazem. Se é para avançar, que seja à minha maneira, que obviamente é a melhor.
Aprendi que posso mentir descaradamente, porque sinceramente, ninguém se importa, e toda a gente o faz.
Aprendi que uma posição de poder e de autoridade é para ser exercida com desprezo pelos meus subordinados, devido à maravilhosa formula - poder = autoridade = posso fazer o que me der na real gana.
Aprendi que muitos dos problemas se resolvem por eles próprios.
Aprendi que a responsabilidade é um conceito vago, e que é feio pedir responsabilidades.
Aprendi que tenho de esperar que as coisas mudem, porque eu não sou mais que os outros, para querer que as coisas mudem para mim.
Viver é aprender, e em Portugal vive-se bem!

sexta-feira, setembro 16, 2005

A todos os Alcobacences


Vamos em breve a eleições para a Presidência Municipal. O nosso querido concelho, do nosso queridinho País, vai estar sujeito a uma querida e fofa eleição democrática. Mais uma vez, vamos poder escolher, livremente, de entre um idiota, um ladrão, um atrasado mental e um incompetente, qual o que desejamos que comande os destinos do nosso concelho. Agradecidos estamos nós por este sistema que nos permite escolher! E agradecidos estamos nós por este sistema que nos facilita os resultados, pois sabemos à partida que a corrida se disputa entre dois dos candidatos, que em si resumem as qualidades de todos (embora este ano tudo indica que a disputa é entre um candidato e ele mesmo), atenuando assim a nossa ansiedade. O povo vê a direito por cabeças tortas (ou algo assim, eu sei que existe um dizer popular parecido, mas a minha memoria é fraca, perdoem-me).
Infelizmente o nosso sistema tem uma falha, que por vezes nos leva a cair nela, embora pouco, e confesso aqui que algumas vezes eu fui uma dessas pessoas. É que o sistema permite escolher, não escolhendo. Aconteceu-me já, no calor da indecisão, e sentindo-me pressionado pelo ambiente formal e democrático, introduzir o boletim de voto na urna, sem que nele tivesse feito qualquer escolha. Perdoem-me todos os democratas, que tanto lutaram para que eu pudesse escolher.
Oiço constantemente as pessoas a dizerem-me que não devo brincar com coisas sérias, mas é difícil interiorizar esse conselho, quando tantas das coisas sérias são hilariantes. Não há ironia mais mordaz que um belo discurso político de um candidato.
E com tudo isto já tomei a minha decisão. Este ano vou ter uma atitude política! E apelo a todos os 5 Alcobacences que visitam o meu blog, que me acompanhem nesta aventura.
Sejamos políticos, e votemos no Vítor Paraquedista!!

Nota aos não Alcobacences: O Vítor Paraquedista não é candidato. O Vítor Paraquedista não sabe que é candidato. O Vítor Paraquedista provavelmente não sabe nada de nada, e também não quer saber.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Gota humana

Gota de suor
Gota de lágrima
Gota de sangue…

Tudo me escorre
E percorre

Gota humana…

Que flúi

Tão triste e tão bela
Na sua liberdade…

Ó homem

Ó Homem
Poderoso e forte

Tu que inventas televisões
Foguetões
Tu que edificas
Que compões
Que Arruínas
Que dispões

Tu que reinas
Que predominas
Que raciocinas…

E prossegues embriagado com tamanhas façanhas
Desprezando que o teu reino é de brincar
Quando comparado com a adulta natureza

quinta-feira, setembro 01, 2005

"Deus face à Ciência"

Acabei há dias de ler um livro bastante interessante. Já o tinha na prateleira há alguns anos, foi-me oferecido a pedido meu, e lá esteve até há pouco tempo. É a primeira vez que faço aqui publicidade a um livro, e se o faço é porque acho a sua leitura pertinente, e porque o tema do livro é sobre um assunto que ocupa grande parte do meu raciocínio e alguma parte da minha leitura.
Quem me conhece sabe que sou crítico acérrimo da religião católica, e de uma maneira geral, de todas as formas de religião. No entanto, e como em tudo, nunca fui de ler, ou de ouvir, apenas o que vai de acordo com a minha opinião; pelo contrário, sempre gostei de olhar as realidades, e tentar fazer por mim a minha avaliação, obviamente influenciada pelo meu pensamento, mas procurando a imparcialidade na lógica, ou no raciocínio lógico. Este argumento poderá ser atacado por alguns, no sentido em que me poderão dizer que os caminhos da fé fogem da racionalidade. Não o duvido, alias, estou até bastante convencido disso, mas aquilo que critico não é a fé nem a crença, mas apenas os caminhos e as direcções que em nome da fé se tomam, quando eles ultrapassam a área de influência do individual, e cuja influência seja prejudicial, no sentido em que se baseia em argumentos irracionais, contribuindo não só para o desenvolvimento de uma ignorância colectiva, como para o atraso e pouco saudável desenvolvimento social.
O título do livro é “ Deus face à Ciência”, de Claude Allegre e a editora a Gradiva. No entanto, o livro poderia chamar-se “A religião face à Ciência”, pois visto que poucos são os discursos de Deus que chegam até nós, o autor teve de usar muitas vezes os seus “representantes” e “interlocutores”. O livro faz uma abordagem dos conflitos que houve ao longo dos tempos entre a religião e a ciência, e também, e através disso, os lugares onde a ciência se desenvolveu mais, tendo em conta a religião presente. Além disso, o livro é enriquecedor tanto para homens como eu do ramo da ciência, como para todos, pelo que de informação nós dá do surgimento de algumas descobertas, e algumas curiosidades. Pelo lado da religião é também interessante porque também nos apresenta uma leve perspectiva histórica. No fundo considero o livro bastante imparcial, porque é muito expositivo, apoiando-se sempre em factos históricos, e penso que é um livro bastante interessante tanto para crentes, como para não crentes, pois apresenta-nos os factos para que possamos sobre eles reflectir.

quarta-feira, agosto 31, 2005

Alteração da descrição do blog

Nesta minha reentrada, e após termos verificado que a minha palavra em termos blogosféricos pouco vale, decidi alterar a descrição do blog. A anterior- ridiculo mas necessário- era apenas uma conjugaçao de duas palavras, sinónimo de nada a não ser que na altura não sabia o que por.
No entanto, mais de um ano depois, finalmente escolhi uma descrição mais condizente com o blog e com o pensamento do seu autor. Criei-a, mas certamente haverão mil e uma outras citações iguais, ou do mesmo género. Aqui fica, só para que o evento seja assinalado:
Como é estranho este homem
Que facilmente acredita ver na escuridão
E tão cego é na claridade.

Eterna estrada...

Na longa e eterna estrada onde caminho
quero apenas ansiar o momento onde me esqueça que o faça
e viver assim
sem dor nas pernas
e sem ter onde chegar.





quinta-feira, abril 28, 2005

Luis Delgado

A partir do momento em que começamos a conhecer o Sr. Luis Delgado, através das suas crónicas jornalisticas e televisivas, uma sensação de nojo começa a instalar-se por todo o nosso corpo. Passando essa fase, e porque misteriosamente somos levados a continuar a ouvi-lo, uma raiva apodera-se de nós, e cada palavra desse senhor atinge-nos como uma estocada a um touro. Posteriormente, e porque a lucidez nos diz que é uma formiga que fala, atingimos o terceiro estágio: o hilariante! Procuramos as suas crónicas como se de um pequeno cartoon se tratasse; queremos nos parodiar com tamanha obra de humor satírico, apimentada pelo facto de percebermos que o Sr. Luis Delgado é a única pessoa no País que não se apercebe do ridiculo que nos apresenta.

segunda-feira, abril 04, 2005

Não te deixarei morrer, ataprofeta

Este blog, ou o seu autor, tem manias de pouca assiduidade; as datas de publicação o confirmam. Mas este interregno já incomoda! Prometo a mim próprio que em breve recomeçarei, muito em breve. E aos poucos leitores lhes digo: - não te deixarei morrer, ataprofeta!

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Luto Nacional?



Em que sentido a Sra. Lúcia contribuiu para a Nação? Só se foi pelo turismo, porque foi por algo que ela disse que viu que milhões de turistas visitam uma cidade Portuguesa. Mas aí também a culpa é mais da instituição que explorou o evento, ela nada mais fez que dizer que viu e ouviu.
Então mas o Estado Português é ou não é um Estado Laico?
Há pessoas por ai que se confundem, outras que aparentemente se confundem, e outras ainda que propositadamente se confundem. Infelizmente, é o que temos.

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Autores, cultura, ou nada disto




Não sei se me desculpo sempre pelas minhas falhas, mas é certo que algumas me reorientaram noutro sentido, e em alguns casos, penso que no correcto.
A minha memória é péssima, especialmente no que toca a nomes. Graças a esse facto, entre outras coisas, sempre tive especial dificuldade em memorizar o nome do autor de variadíssimas coisas. No entanto, memorizava mais facilmente aquilo a que o autor estava associado, fosse uma ideia ou um acontecimento. Esta “falha” pessoal, com o tempo, transformou algo que era inato, numa coisa em que acredito:
- Mais importante que quem fez, disse, ou escreveu, é o que fez, o que disse, ou o que escreveu.
Em Portugal presta-se especial importância ao autor. Eu até admito que o próprio autor assim o sinta; o orgulho pessoal e os méritos e honrarias que daí possam advir são coisas que enchem o ego, e até podem encher a carteira, mas parece que o sentimento e a forma de encarar esta realidade pelas pessoas, e principalmente por uma classe pretensiosamente intelectual, não está imbuída de qualquer sentimento nobre. Parece-me antes um vício antigo, onde a inteligência e cultura é medida pelo latim de cada qual (antigamente quem dominava o latim era visto como um homem de cultura, de inteligência, e muitos faziam por demonstrar a sua arte nas suas obras publicadas, levando-as ao extremo e ao ridículo, e acrescentaria, levando-as a lado nenhum. Hoje em dia não é o Latim, mas é a exagerada importância que se dá à cultura, onde em vez de um sóbrio complemento, ela é usada quase como meio de comunicação. Eu diria que quem fale bem, mas apenas com as palavras dos outros, e o faça com uma certa altivez, estaria perfeitamente encaixado neste perfil).
Eu não diria que este vício é perigoso, mas que me parece ser um sinal do nosso atraso, parece. É que a mensagem que parece passar, é a de que nós não precisamos pensar, porque os outros já pensaram por nós. Eu penso que devemos usar o que os outros pensaram para nos ajudar a pensar, a sentir, cortando caminho para estágios mais avançados, pois só assim concebo um progresso intelectual.
É importante conhecer o passado sim, mas como objectivo de nos ajudar a compreender o presente, e de explorar o futuro. O autor é o canal por onde passa a mensagem, e a mensagem é uma gota no Oceano.


Resta-me dizer, para que fique bem claro, que o meu problema não é com a cultura do passado, que lhe dou muita importância, me dá muito gosto, e a uso com imenso prazer. O meu problema é apenas que se faça dela uma escola, um objectivo em si mesmo, e não um veículo para uma evolução. Se há quem o goste, que a use e abuse para seu belo prazer, cada qual que se divirta. Mas que não chateie os outros.

domingo, janeiro 30, 2005

Todos os comportamentos humanos são naturais



Tal como árvores da mesma espécie que ao crescerem continuam na mesma espécie, mas com a liberdade de terem formas e feitios diferentes, por casualidades externas e internas, porque são várias as variáveis que influenciam o seu comportamento, também os comportamentos dos humanos, qualquer que sejam, são naturais à espécie humana. A questão é de visão.
Um humano pode julgar outro humano pelos seus comportamentos, e achar que eles não são naturais, que são desvios à espécie humana. Mas outra coisa que não um humano, julgaria os comportamentos de todos os humanos como sendo naturais à sua espécie. Essa coisa poderia dizer que não é natural um humano voar, mas diria que é natural um humano ter a capacidade de construir algo que lhe possibilite voar. E se algum dia um humano voasse, esse comportamento passaria a ser natural no humano.
Essa outra coisa poderia também chegar a outras conclusões. Poderia, pela simples observação, encontrar padrões, acontecimentos que ocorrem com maior frequência que outros, e poderia, se lhes quisesse dar um nome, chamar a uns, acontecimentos normais, ou mais normais que outros, utilizando a palavra normalidade no sentido em que esse acontecimento se sobrepõe, ou ocorre com mais frequência que outro,e a outros, acontecimentos anormais, com o sentido oposto do primeiro.
Tudo tem a ver com a liberdade, ou melhor, com as variáveis de liberdade. Peguemos outra vez no exemplo da árvore. O que é que a nossa observação nos pode dizer que é natural numa árvore? Ela pode dizer que não é natural a uma árvore andar, que é natural que ela cresça e se desenvolva apenas num determinado espaço. Mas dentro desse espaço a arvore ainda tem muitos padrões de liberdade. Os seus ramos, a forma do seu crescimento, o seu tamanho, a sua constituição interna e externa, a sua cor, todas estas variáveis podem mudar numa árvore, e mesmo em árvores da mesma espécie. No entanto, veremos que existem padrões entre elas, e que existem variações a esses padrões, e que uns ocorrem mais frequentemente que outros, mas tudo dentro do que observamos ser possível a uma árvore, dentro das variáveis de liberdade que ela tem. Uma couve de quatro metros de altura não é uma couve normal, mas se determinados factores se conjugarem, é possível a uma couve ter quatro metros de altura. Nesse caso, eu diria que é natural que uma couve tenha quatro metros de altura, porque a sua constituição e as suas variáveis de liberdade o permitem. Ela não deixou de ser couve por ter quatro metros de altura. No entanto, eu diria que não é normal isso acontecer, e só no sentido em que o acontecimento é raro, e apenas é raro porque as variáveis que o influenciaram, ou permitiram, são raras.
Ora, da mesma forma está um humano. Um assassino não deixa de ser um humano. Mas o seu comportamento não é normal, ou seja, o seu comportamento ocorre com pouca frequência, porque as variáveis que se conjugaram para essa pessoa se tornar numa assassina são raras. As variáveis de liberdade que a espécie humana tem permitem-lhe comportamentos assassinos, é só conjugarem-se na devida proporção. Nesse sentido, é natural ao humano ser assassino, porque está dentro da sua natureza, enquanto espécie humana, ter o potencial para o ser.
Quem diz assassino, diz todos os comportamentos que os humanos têm, que fogem da “normalidade”.
Eu não gosto da palavra normal, porque o seu oposto é anormal, e esta palavra é usada entre nós, frequentemente, com conotação negativa. Por isso eu tive o cuidado de acrescentar que o normal era o que ocorria com maior frequência, pois pretendi fugir a qualquer juízo de valor. Eu não acho que uma coisa anormal seja necessariamente negativa, e muito menos em relação ao que acabei de expor. Os julgamentos comportamentais são coisas que pertencem à parte social da espécie humana, que está muitas vezes em conflito com a natureza. Eu faço parte da espécie humana, mas não pretendo fazer aqui um juízo de valor acerca de nada, pretendo apenas expor da forma mais clara que consigo o que me parece ser uma lógica de natureza.
Eu usei o exemplo de assassino, mas podia ter posto pedófilo, homossexual, ou outra coisa qualquer. Em termos de juízos de valor, cada caso tem o seu, entre povos, e entre eras. A pedofilia ocorre com mais frequência, a homossexualidade ainda mais, e em cada caso os comportamentos são sempre humanos, são sempre naturais, mas ao longo dos tempos houve sempre choques com estes comportamentos, que, por ocorrerem com menor frequência, e por variadíssimos outros factores, foram sendo postos de parte de uma ordem social e moral que os humanos para si criaram, e que acharam necessidade de a defender, na tentativa de preservar um sistema de valores, que por sua vez ajudaria na preservação de uma ordem.
Resta-me dizer que eu não estou contra a necessidade de se estabelecer uma ordem social. Entendo que os homens e mulheres são animais sociais, que precisam e sobrevivem à conta do esforço conjunto, e entendo que não há esforço conjunto sem organização. No entanto, entendo que os problemas se resolvem melhor se procurarmos saber o máximo sobre eles. Entendo que devemos usar a razão para procurar os factos, e que estaremos mais próximos de chegar a soluções se tivermos o máximo de consciência do que nos rodeia. O universo é complexo, o mundo é complexo, a vida é complexa. Mas não estaremos mais próximos do entendimento do que nos rodeia se persistirmos em não olhar.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Justiça?



Eu não sou advogado, nem nunca estudei leis, mas parece-me que existe, ou se não existe deveria existir, uma componente pedagógica na justiça, ou mais propriamente, nas decisões judiciais. Mais, parece-me que sem essa componente pedagógica, a justiça perde todo o seu fundamento, sendo que ela não seria mais que uma espécie de agente punidor.
Embora às vezes, ou nalguns casos maioritariamente, assim o pareça, num sistema democrático e que se quer respeitador dos direitos da pessoa humana, a justiça tem de ser, ou de ter nela, uma deontologia de clarificação, de procura dos factos, e o castigo terá que ser visto como um mal inevitável, que na falta de alternativa a esse mal, terá de ser administrado com extremo cuidado. Os sistemas sociais são extremamente complexos, adequar leis que regulam e permitem uma tentativa de harmonia nesse sistema, é igualmente complexo, e o erro, a contradição, são muitas vezes inevitáveis. Por este pressuposto, eu diria que a justiça é muitas vezes injusta.
Fazendo aqui um aparte, eu diria que a justiça é sempre injusta, se considerarmos o choque entre a pessoa individual e a pessoa colectiva, mas isso já é outra história.
E é por a justiça ser injusta, que tem de ser tratada com extremo cuidado, muito mais cuidado que muitas outras actividades, diria até, que todas as outras actividades. Porque os nossos direitos, as nossas liberdades individuais, como pessoas humanas, o nosso direito à liberdade, à vida, a nossa dignidade, são estas as coisas que estão em causa nas mãos da justiça. Por tudo isto, a justiça deveria ser das actividades mais permanentemente vigiadas, verificadas, das actividades mais facilmente maleáveis, onde o erro deveria ser o mais rapidamente rectificado, onde a morosidade deveria ser mais rapidamente atacada. No entanto, não é isso que verificamos. Não é a justiça que é cega, nós é que somos cegos em relação a ela. Parece obvio que existe alguma espécie de problema estrutural na justiça, que o seu funcionamento tem muito que melhorar. Sobre isso nada sei falar, não conheço as suas entranhas, e nem me interessa conhecer. O que me interessa é saber que ela funciona o melhor possível, que seja feita com o maior dos cuidados, que exista uma tentativa constante de aperfeiçoamento, de vigilância, e que a própria justiça esteja ela também sujeita a julgamento, que se tenha permanente que a justiça existe em favor das comunidades, e os direitos das pessoas têm de ser sagrados, em qualquer das circunstancias, e também que seja mais clara para o exterior, só numa de quando uma pessoa é presa preventivamente não ouvirmos comentários como – "eu bem sabia que ele era culpado".
E não esquecer a componente pedagógica...
Nos Estados Unidos da América (a mais antiga das democracias), a pena de morte é lei em muitos estados. O que eles querem dizer com essa lei, é que em caso algum se pode matar, que matar alguém é um crime extremamente grave, horrendo, só praticado pelo maior dos criminosos sem escrúpulos, que a pessoa que comete tal crime não merece nenhuma condescendência, sendo que só pode ser merecedora do maior dos castigos, só pode ser merecedora da morte!...eu não sei, mas parece que existe aqui uma contradição. Então mas matar não é um crime cometido por alguém sem escrúpulos? Então mas matar não é um crime tão horrendo que não merece perdão? Então mas o Estado, essa pessoa de bem, não se transformará ele também num criminoso, ao sentenciar a morte? Então e que aprendemos com isto? Afinal, pode-se matar? Não matarás, porque se matares, eu te matarei? O que é isto? Então mas o estado é alguma entidade divina? Ou o estado somos nós todos? E já agora, a guerra? Em nenhuma circunstância deves matar, a não ser que eu te mande? Onde ficamos? Que lógica é esta? Que "moral"? Que pedagogia?
Eu sei que pedagogia. É a pedagogia do interesse! É a puta da hipocrisia!
Estamos cheios dela!

domingo, janeiro 02, 2005

Saudades...


Sim, é verdade,

às vezes tenho saudades,
dos momentos imaginados que nunca tive

à memória só me vêm os sonhos,
os prazeres antigos, reinventados

e persigo o presente

tudo o resto subsiste na minha fraca memória,
na minha capacidade de sonhar
e deambular pelo vazio

e na tentativa de fechar os olhos
quando olho para a frente