quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Autores, cultura, ou nada disto




Não sei se me desculpo sempre pelas minhas falhas, mas é certo que algumas me reorientaram noutro sentido, e em alguns casos, penso que no correcto.
A minha memória é péssima, especialmente no que toca a nomes. Graças a esse facto, entre outras coisas, sempre tive especial dificuldade em memorizar o nome do autor de variadíssimas coisas. No entanto, memorizava mais facilmente aquilo a que o autor estava associado, fosse uma ideia ou um acontecimento. Esta “falha” pessoal, com o tempo, transformou algo que era inato, numa coisa em que acredito:
- Mais importante que quem fez, disse, ou escreveu, é o que fez, o que disse, ou o que escreveu.
Em Portugal presta-se especial importância ao autor. Eu até admito que o próprio autor assim o sinta; o orgulho pessoal e os méritos e honrarias que daí possam advir são coisas que enchem o ego, e até podem encher a carteira, mas parece que o sentimento e a forma de encarar esta realidade pelas pessoas, e principalmente por uma classe pretensiosamente intelectual, não está imbuída de qualquer sentimento nobre. Parece-me antes um vício antigo, onde a inteligência e cultura é medida pelo latim de cada qual (antigamente quem dominava o latim era visto como um homem de cultura, de inteligência, e muitos faziam por demonstrar a sua arte nas suas obras publicadas, levando-as ao extremo e ao ridículo, e acrescentaria, levando-as a lado nenhum. Hoje em dia não é o Latim, mas é a exagerada importância que se dá à cultura, onde em vez de um sóbrio complemento, ela é usada quase como meio de comunicação. Eu diria que quem fale bem, mas apenas com as palavras dos outros, e o faça com uma certa altivez, estaria perfeitamente encaixado neste perfil).
Eu não diria que este vício é perigoso, mas que me parece ser um sinal do nosso atraso, parece. É que a mensagem que parece passar, é a de que nós não precisamos pensar, porque os outros já pensaram por nós. Eu penso que devemos usar o que os outros pensaram para nos ajudar a pensar, a sentir, cortando caminho para estágios mais avançados, pois só assim concebo um progresso intelectual.
É importante conhecer o passado sim, mas como objectivo de nos ajudar a compreender o presente, e de explorar o futuro. O autor é o canal por onde passa a mensagem, e a mensagem é uma gota no Oceano.


Resta-me dizer, para que fique bem claro, que o meu problema não é com a cultura do passado, que lhe dou muita importância, me dá muito gosto, e a uso com imenso prazer. O meu problema é apenas que se faça dela uma escola, um objectivo em si mesmo, e não um veículo para uma evolução. Se há quem o goste, que a use e abuse para seu belo prazer, cada qual que se divirta. Mas que não chateie os outros.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não imaginas a importância que as tuas "piquenas gotas no oceano", representam para mim. Obrigado Célia João

Anónimo disse...

Amor, não acho que isso seja um sinal de atraso. Muito pelo contrário. Os países mais desenvolvidos é que tem esse costume de gravar nomes de autores, enquanto outros como o meu preferem dar importância somente à teoria. Também não vejo importancia em guardar o nome do santo, apenas o milagre, mas é como se fosse um ultimo estágio de desenvolvimento na educação...rss É como se nada mais tivesse a se tirar daquela teoria, então agora podemos lembrar o nome do autor.. rss
mas sei que não é isso... Na verdade o nome do autor, pelo menos na minha área, é muito valorizado pela credibiblidade. Teorias existem em toda parte, mas a diferença entre uma e outra é a teoria em que se baseiam e os autores usados como apoio. Se for um autor conhecido e respeittado, automaticamente sua teoria terá atenção espécial. Meu professor vive me dizendo que é o que diferencia vc do cara do bar que esbraveja bêbado suas teorias...
Enfim, eu estava aqui pensando e acabei indo longe...
Te amo!
Sua